terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Educação e Instrução da Infância Moderna

Artigo do Cetro Real sobre a cristianização das novas gerações, através da introdução de uma lógica cristã na formação cultural e moral de crianças e adolescentes. Especificamente neste artigo, temos enfocado o desafio de educadores cristãos em atuação em educandários leigos, sejam escolas primárias ou mesmo no ambiente universitário.

Entrevista com  Arcipestre Artemio Vladimiro.


- Batiushka, você tem vasta experiência em ensinar. Você lecionou em escolas seculares assim como em organizações educacionais da igreja. Também conduziu os cursos que agora estão ganhando alguma atenção na Russia, chamados “Fundamentos da Cultura Ortodoxa”. Quais qualidade, em sua opinião, um professor deve ter se desejar ensinar esta disciplina?


- Pela providência de Deus eu tenho estado conectado ao ensinamento escolar desde 1983. Eu lembro, quando eu era um professor jovem, eu estive sob um julgamento rigoroso dos burocratas soviéticos, que me acusavam de um pensamento não-padrão.

Eles requisitaram que eu fosse removido imediatamente do sistema escolar ginasial soviético, pois nos anos 80 tudo deveria conformar a um determinado formato.
Entretanto, no ensinamento em geral e particularmente no ensinamento da cultura ortodoxa, não deve haver de modo algum uma abordagem padrão.
Não se deve seguir um caminho bem-trilhado e fixo o tempo todo. Nós, os educadores do século 21 não podemos nos safar com frases clichês e generalidades.
Nós somos pioneiros e não temos medo de descobrir novos horizontes.
Quando você entra num auditório de uma escola pela primeira vez, você deve, acima de tudo, ser claro com relação ao seguinte: crianças são alegres, criaturas que amam o conhecimento e olham para o mundo (desde que não tenham sido cativados por jogos de computadores – mais sobre isso depois) com olhos bem abertos.
Assim, cada educador – e especialmente, todo instrutor das leis de Deus – deve ter uma percepção aguçada e fresca do mundo, a habilidade de abordar um assunto de um lado inteiramente inesperado.
E mais importante, deve entender que o professor e seus pupilos se associam não apenas em um nível intelectual, mental, discursivo ou racional, mas também com o coração e alma.
Além disso ele pode, e de fato deve, começar o processo educacional com uma oração secreta para seu sucesso.


- Provavelmente não é fácil fazer esse tipo de contato com as crianças de hoje em dia…



- Hoje nossa audiência jovem sabe mais que nós mesmos sobre o significado de “bom” e “ruim”. Eles estão sobrecarregados com todo o tipo de informação.

Freqüentemente quando lidamos com crianças podemos observar e sentir um desânimo prematuro com a vida. Elas são privadas de sua infância, daquele tempo que não volta mais quando (como era quando éramos crianças) os adultos tentariam proteger a criança de assuntos, imagens e impressões cruas, negativas e impuras.
O educador de hoje pode ser comprado a um soldado do ministério das emergências; a um salvador que chegou na cena de um terremoto ou naufrágio. Sua tarefa é puxar algum ser vivo para fora do entulho.
Então hoje, chegando a uma classe de estudantes do ginásio (estou falando aqui da situação da capital da Russia), você involuntariamente fica eriçado, porque você pode determinar o estado moral de sua audiência pelos seus olhares. Um deles olha para você com um olher pesado, indiferente,cansado, como a dizer “não me arrependo, ou chamo, ou choro / como vapor subindo das macieiras brancas, Estou farto / superado pelo ouro minguante / não mais eu serei jovem¹. Enquanto isso, no outro canto você está sendo observado por um ser jovem, que por alguma razão não teve tempo suficiente de se vestir suficientemente para sua aula de “Fundamentos da cultura espiritual”. Tudo que deveria estar escondido dos estranhos está piscando para fora.
Você tenta entender o que faz esse ser funcionar, mas ao invés disso, você abaixa o olhar em constrangimento – tão afiado, avaliador e pacífico o olhar dela lhe parece.
Está exatamente de acordo com as palavras de Salomão, a fornicação de uma mulher pode ser conhecida pela altivez de seus olhos e por suas pálpebras.
Então, o professor de hoje de cultura espiritual – ou lições sobre moralidade, piedade, ou qualquer que seja o nome da disciplina – requer integridade da alma e forças vitais de amor e verdade que podem suportar a pressão desses olhares sarcásticos, cínicos, a malícia, indiferença e até a rudeza simples.
Um professor deve ser incondicionalmente sincero, e ter calor no coração.
O educador moderno deve entender que não é possível a ele adequar seu material à cama de Procrustes² de temas herdados do final do século 19, início do século 20.
E esses temas mesmos, sejam eles histórias sagradas do Velho e Novo Testamentos, a história da Igreja Cristã ou litúrgicos, como o total conhecimento dos serviços modernos da igreja, devem ser ensinados com grande tato, sensibilidade e precaução; mais importante, devem ser relacionados aos assuntos que toquem os jovens, audiência moderna, de forma vívida.Como os servos de Aesculapius – doutores, cujo princípio era “não fira”, também os professores de cultura espiritual devem ter ser princípio principal, “não entedie!” Não seja um fardo para sua audiência, mas sim uma alegria.
Nós, educadores, devemos olhar para nós mesmo com muito cuidado e nos ouvir objetivamente. E durante o curso das próprias lições, como relatamos para as crianças, devemos testar para assegurar que não estão exaustos ou enfadados por nossa palestra.
Acredito que durante os anos vindouros na Russia, não apenas essas matérias serão legalizadas em todas as escolas públicas, mas serão introduzidas como parte do curriculum requerido.
E que Deus garanta que os educadores possam deitar o tesouro da experiência educacional e abordagem metódica aos pés das crianças naquela hora em que começam a falar com elas sobre o perene, o valioso, o ideal, puro e belo – sobre tudo que vive na campo da cultura ortodoxa.


- Espera-se que crianças que participam das escolas da Igreja sejam mais simples, obedientes, atentas…



- Nossas crianças não vivem em cavernas nem nas Alturas espirituais. Elas vêm de famílias modernas; e mesmo se essas famílias participarem da vida da Igreja, mesmo se elas foram pias, ainda assim, ninguém nem nada podem proteger nossos estudantes de uma grande variedade de influências – esses “ventos malévolos”.

Um professor de cultura espiritual deve ser um excelente diagnosticador, deve ser um médico espiritual, que, pela classe inteira no começo da semana, seja obrigado a fazer um diagnóstico imediato discernindo qual vento, que vírus penetrou e conquistou mentes e corações desses adolescentes durantes os últimos três ou quatro dias desde o último encontro.
Na semana passada foi o vento das palavras grosseiras. Há atualmente um problema na Russia: nossas bocas e lábios se tornaram um tipo de padaria. “Blini” ³, “fudge” e vários bolos verbais recheados de vulgaridade, agressividade e pensamentos impuros parecem estar sempre estourando. Simplesmente passar por esses produtos com indiferença significaria permitir que todas nossas grandes expectativas e boas intenções fossem pelo ralo.
Esta semana você vê que as garotas começam a perseguir os garotos, batendo neles com as mochilas cheias de livros, como um sinal de amor infinito. E você tem que prevenir um trauma infantil e mostrar que há outras formas de membros dos sexos opostos fazerem amigos; você tem que guiar seus interesses secretos mútuos para um caminho mais pacífico e construtivo.
Na próxima semana lutaremos contra outras novas tentações. Para isso, nós, educadores ortodoxos, não somos sonhadores da torre de marfim. Nós somos realistas, pragmáticos, doutores da vizinhança que participam dos destinos das pessoas.
Somos também oficiais do exército, ficamos na linha de frente, onde “cavalo e homem estão misturados em pilhas”4, balas de canhão, o assobio do tiro, nuvens de terra subindo cá e lá, o relincho dos cavalos, chamadas à vitória, gritos de feridos...e lá, no meio da devastação militar, está o educador como um rápido cavaleiro.
Ele olha com frieza para o que está acontecendo, tentando trazer conforto, para resgatar um ou outro adolescente, e por vezes até guardar com seu próprio peito algum ser jovem e inexperiente.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Marxismo Cultural

O marxismo é um  assunto que tem invadido cada vez mais as escolas. Muitos professores propagam as ideologias marxistas e acabam convencendo os alunos  de que isso seja bom. Até os livros didático vem com essa ideologia, não demonstrando como algo neutro, mas como algo que deva ser aceito. Não é de se surpreender pois nosso governo é marxista/socialista. Mas não existe apenas o marxismo econômico, mas o marxismo cultural que é o mais influente em nossos dias. Porque, não é preciso estudar marxismo para estar dentro da cultura em que estamos. Basta ver a decadência moral de nossos dias: as escolas distribuindo preservativos os jovens se entregando a uma vida desregrada, começando a vida sexual cada vez mais cedo, a falta de religiosidade das pessoas, os divórcios pois já não se vê o matrimônio como algo eterno e sagrado, o homossexualismo, o aborto e a  a propria mídia que contribui para espalhar tudo isso....
Para saber mais sobre esse marxismo cultural posto aqui algumas aulas do Padre Paulo Ricardo que explica muito bem o que é o marxismo cultural dominante em nossos dias, e como combate-lo :












sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Dom Bosco: O Sistema Preventivo na Educação dos Jovens





Fui instado várias vezes a expressar, verbalmente ou por escrito, o meu pensamento sobre o chamado Sistema Preventivo, que se costuma praticar em nossas casas. Por falta de tempo, não pude ainda satisfazer esse desejo. Querendo agora imprimir o Regulamento, que até hoje tem sido usado sempre tradicionalmente entre nós, julgo oportuno expor aqui um rápido esboço. Isso será como o índice de um opúsculo que estou elaborando, se Deus me der vida para levá-lo a termo. Move-me a isso apenas a vontade de colaborar na difícil arte da educação juvenil. Direi, portanto, em que consiste o Sistema Preventivo, e por que se deve preferir; sua aplicação prática e vantagens.

1.    Em que consiste o Sistema Preventivo e por que se deve preferir

São dois os sistemas até hoje usados na educação da juventude: o Preventivo e o Repressivo. O Sistema Repressivo consiste em fazer que os súbditos conheçam a lei, e depois vigiar para saber os seus transgressores e infligir-lhes, quando necessário, o merecido castigo. Nesse sistema, as palavras e o semblante do superior devem constantemente ser severos e até ameaçadores, e ele próprio deve evitar toda a familiaridade com os dependentes. O diretor, para dar mais prestígio à sua autoridade, raro deverá achar-se entre os dependentes e quase unicamente quando se trata de ameaçar ou punir. Esse sistema é fácil, menos trabalhoso. Serve especialmente para soldados e, em geral, para pessoas adultas e sensatas, que devem, por si mesmas, estar em condições de saber e lembrar o que é conforme às leis e outras prescrições.
Diferente e, eu diria, oposto é o Sistema Preventivo. Consiste em tornar conhecidas as prescrições e as regras de uma instituição, e depois vigiar de modo que os alunos estejam sempre sob os olhares atentos do diretor ou dos assistentes. Estes, como pais carinhosos, falem, sirvam de guia em todas as circunstâncias, dêem conselhos e corrijam com bondade. Consiste, pois, em colocar os alunos na impossibilidade de cometerem faltas.

O sistema apóia-se todo inteiro na razão, na religião e na bondade. Exclui, por
isso, todo o castigo violento, e procura evitar até as punições leves. Parece preferível pelas seguintes razões:

1. O aluno, previamente avisado, não fica abatido pelas faltas cometidas, como
sucede quando são levadas ao conhecimento do superior. Não se irrita pela
correção feita nem pelo castigo ameaçado, ou mesmo infligido, pois a punição
contém em si um aviso amigável e preventivo que o leva a refletir e, mais v e z e s , consegue granjear-lhe o coração. Assim o aluno reconhece a necessidade do castigo e quase o deseja.

2. A razão mais essencial é a volubilidade do menino, que num instante esquece as regras disciplinares e o castigo que ameaçam. Por isso é que, amiúde, se torna um menino culpado e merecedor de uma pena em que nunca pensou, e de que absolutamente não se lembrava no momento da falta cometida, e que teria por certo evitado, se uma voz amiga o tivesse advertido.

3. O Sistema Repressivo pode impedir uma desordem, mas dificilmente melhorará os culpados. D i z a experiência que os jovens não esquecem os castigos recebidos, e geralmente conservam ressentimento acompanhado do desejo de sacudir o jugo e até de tirar vingança. Podem, às vezes, parecer indiferentes; mas quem lhes segue os passos sabe quão terríveis são as reminiscências da juventude. Esquecem facilmente os castigos que recebem dos pais; muito dificilmente, porém, os dos educadores. Há casos de alguns que na velhice se vingaram com brutalidade de castigos justos que receberam nos anos de sua educação. O Sistema Preventivo, pelo contrário, granjeia a amizade do menino, que vê no assistente um benfeitor que o adverte, quer fazê-lo bom, livrá-lo de dissabores, castigos e desonra.

4. O Sistema Preventivo predispõe-se  persuade de tal maneira o aluno, que o educador poderá em qualquer lance falar-lhe com a linguagem do coração, quer no tempo da educação, quer ao depois. Conquistado o ânimo do discípulo, poderá o educador exercer sobre ele grande influência, avisá-lo, aconselhá-lo, e também corrigi-lo, mesmo quando já colocado em qualquer trabalho ou emprego público, ou no comércio. Por essas e muitas outras razões, parece que o Sistema Preventivo deve preferir-se ao Repressivo.

2. Aplicação do Sistema Preventivo

A prática desse sistema baseia-se toda nas palavras de São Paulo: "A caridade é benigna e paciente; tudo sofre, mas espera tudo e suporta qualquer incomodo. Por isso, somente o cristão pode aplicar com êxito o Sistema Preventivo. Razão e Religião são os instrumentos de que o educador deve servir-se; deve inculcá-los, praticá-los ele mesmo, se quiser ser obedecido e alcançar os resultados que deseja.

1. Deve, pois, o diretor consagrar-se totalmente aos seus educandos: jamais assuma compromissos que o afastem das suas funções, Pelo contrário, permaneça sempre com seus alunos, todas as vezes que não estiverem regularmente ocupados, salvo estejam por outros devidamente assistidos.

2. A moralidade dos professores, mestres de oficina, assistentes, deve ser notória. Esforcem-se eles por evitar, como epidemia, toda a sorte de afeições ou amizades sensíveis com os alunos, e lembrem-se de que o descaminho de um só pode comprometer um instituto educativo. Veja-se que os alunos não fiquem jamais sozinhos. Porquanto possível, os assistentes sejam os primeiros em achar-se no lugar onde os alunos devem reunir-se; entretenham-se com eles enquanto não vier um substituto; nunca os deixem desocupados.

3. Dê-se ampla liberdade de correr, pular e gritar, à vontade. Os exercícios ginásticos e desportivos, a música, a declamação, o teatro, os passeios, são meios eficacíssimos para se alcançar a disciplina, favorecer a moralidade e conservar a saúde. Mas haja cuidado em que a matéria das diversões, as pessoas que tomam parte, as falas, não sejam repreensíveis. "Fazei quanto quiserdes", dizia o grande amigo da juventude, São Filipe Néri, "a mim me basta não cometais pecados".

4. A confissão frequente, a comunhão frequente e a missa cotidiana são as colunas que devem sustentar um edifício educativo, do qual se queira eliminar a ameaça e a vara. Nunca se obriguem os jovens a frequentar os santos sacramentos: basta encorajá-los e dar-lhes comodidade de se aproveitarem deles. Nos exercícios espirituais, tríduos, novenas, pregações, catecismos, ponha-se em relevo a beleza, a sublimidade, a santidade da Religião, que oferece meios tão fáceis, tão úteis à sociedade civil, à paz do coração, à salvação da alma, como são precisamente os santos sacramentos. Dessa maneira, estimulam-se os meninos a querer, espontaneamente, essas práticas de piedade; haverão de cumpri-las de boa vontade, com prazer e fruto.

5. Use-se a máxima vigilância para impedir que entrem no instituto companheiros, livros ou pessoas que tenham más conversas. A escolha de um bom porteiro é um tesouro para uma casa de educação.

6. Todas as noites, após as orações de costume e antes que os alunos se recolham, o diretor, ou quem por ele, dirija em público algumas afetuosas palavras, dando algum aviso ou conselho sobre o que convém fazer ou evitar. Tire-se a lição moral de acontecimentos do dia, sucedidos em casa ou fora; mas a sua alocução não deve passar de dois ou três minutos. Essa é a chave da moralidade, do bom andamento e do bom êxito da educação.

7. Afaste-se como a peste a opinião dos que pretendem diferir a primeira comunhão para uma idade demasiado adiantada, quando em geral o demónio já se apossou do coração dos meninos, com incalculável dano da sua inocência. Conforme a disciplina da Igreja primitiva, costumava dar-se às crianças as hóstias consagradas que sobravam da comunhão pascal. Isso demonstra quanto preza a Igreja sejam os meninos admitidos mais cedo à santa comunhão. Quando uma criança pode distinguir entre Pão e pão, e revela instrução suficiente, já não se olhe para a idade, e venha o Soberano Celeste reinar nessa alma abençoada.

8. Os catecismos recomendam a comunhão frequente: São Filipe Néri aconselhava-a cada oito dias e ainda mais amiúde. O Concílio Tridentino diz claro que deseja sumamente que todos os fiéis, quando ouvem a santa Missa, façam também a comunhão. Porém seja a comunhão não só espiritual, mas ainda sacramental, a fim de que se tire maior fruto desse augusto e divino sacrifício {Concílio Tridentino,Sess. X X I I , capítulo VI).

3. Utilidade do Sistema Preventivo
Dir-se-á que esse sistema é difícil na prática. Observo que da parte dos alunos torna-se bastante mais fácil, agradável e vantajoso. Para o educador, encerra alguma dificuldade que, porém, diminuirá se ele se entregar com zelo à sua missão. O educador é um indivíduo consagrado ao bem de seus alunos: por isso, deve estar pronto a enfrentar qualquer incómodo e canseira, para conseguir o fim que tem em vista: a formação cívica, moral e científica dos seus alunos.

Além das vantagens acima expostas, acrescenta-se ainda o seguinte:

1. O aluno conservará sempre grande respeito para com o educador e lembrará com gosto a educação recebida e considerará ainda os seus mestres e demais superiores como pais e irmãos. Esses alunos, nos lugares para onde forem, serão, as mais das vezes, o consolo da família, cidadãos prestimosos e bons cristãos.

2. Qualquer que seja o caráter, a índole, o estado moral do aluno ao ser admitido, podem os pais viver seguros de que seu fdho não vai piorar, e considera-se como certo que se alcançará sempre alguma melhora. Antes, meninos houve que depois de terem sido por muito tempo o flagelo dos pais, e, até, rejeitados pelas casas de correção, educados segundo esses princípios, mudaram de índole e caráter, deram-se a uma vida morigerada, e presentemente ocupam posição distinta na sociedade, tornando-se, desse modo, o amparo da família e honra do lugar em que moram. Os alunos que por acaso entrassem num instituto com maus hábitos, não podem prejudicar os seus companheiros. Nem os meninos bons poderão ser por eles contaminados, porque não haveria tempo, nem lugar, nem ocasião, pois o assistente, que supomos presente, logo lhes acudiria.

4. Uma palavra sobre os castigos

Que norma seguir para dar castigos? Por quanto possível, jamais se faça uso de castigos. Quando, porém, a necessidade o exige, observe-se quanto segue:

1. O educador entre os alunos procure fazer-se amar, se quer fazer-se respeitar. Nesse caso, a subtração da benevolência é um castigo que desperta emulação, infunde coragem sem deprimir.

2. Entre os meninos é castigo o que se faz passar por castigo. Observou-se que um olhar não amável produz para alguns maior efeito que uma bofetada. O elogio quando uma ação é bem-feita, a repreensão quando há desleixo, é já um prêmio ou castigo.

3. Salvo raríssimos casos, as correções, os castigos, nunca se dêem em público, mas em particular, longe dos companheiros, e empregue-se a máxima prudência e paciência para que o aluno compreenda a sua falta à luz da razão e da religião.

4. Bater, de qualquer modo que seja, pôr de joelhos em posição dolorosa, puxar orelhas e outros castigos semelhantes, devem-se absolutamente banir, porque são proibidos pelas leis civis, irritam sobremaneira os jovens e desmoralizam o educador.

5. Torne o diretor bem conhecidas as regras, os prêmios e os castigos sancionados pelas leis disciplinares, a fim de que o aluno não possa desculpar-se dizendo: " Eu não sabia que isso era mandado ou proibido".

Se em nossas casas se puser e prática este sistema, creio poderemos alcançar grande resultado, sem recorrermos a pancadarias, nem a outros castigos violentos. Há quarenta anos, m á s o u menos, que trato com a juventude, não me lembra ter usado castigo de espécie alguma. Com o auxílio de Deus, não só obtive sempre o que era de dever, mas ainda o que eu simplesmente desejava, e isso daqueles mesmos meninos dos quais se havia perdido a esperança de bom resultado.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Normas para Professores Católicos

(18 de julho de 1957)

Pio XII



1. Antes de tudo, numa sociedade em plena evolução, como a presente, conservai a mais alta ideia da vossa missão providencial;

a) porque ela é e será sempre de necessidade imprescindível, (já que a formação e a educação primária das crianças é algo anterior a todas as demais futuras diversificações sociais;

b) porque ela constitui a base natural de tudo o que se deva elaborar depois, proporcionando-lhe, inclusive, um tom e um sentido cuja influência nunca se poderá desconhecer, antes dever-se-á levar em conta como algo definitivo;

c) porque, embora o campo da cultura se vá sempre ampliando coisa certa é que, em determinadas formas e em determinados graus, nunca estará ela ao alcance de todos absolutamente, enquanto que os primeiros passos do ensino abrangem, por necessidade, a sociedade inteira, podendo imprimir-lhe cunho cada vez mais definido.

2. Mas, para que a vossa missão alcance a sua plena eficácia, indispensável é que tenhais dela uma ideia clara, recordando sempre:

a) que a vossa missão como mestres não pode reduzir-se exclusivamente a serdes veículos para a aquisição de uma ciência, mais ou menos profunda, mais ou menos vasta, senão que deveis ser, antes de mais nada, educadores dos espíritos, e, na sua devida proporção, forjadores das almas dos vossos escolares;

b) que o vosso labor não pode conceber-se como um empenho meramente individual, e sim como uma função social, em plena coordenação, sobretudo, com as famílias e com as legítimas autoridades, permutando todos entre si elementos de juízo, meios educativos e o necessário prestígio, com um escopo comum, que é o bem social;

c) que a vossa vocação, pode-se dizer, vai além do puramente humano e terreno, fazendo-vos colaboradores do sacerdote e da própria Igreja de Cristo, nessa edificação das almas que tão singularmente podeis promover, da mesma forma que tão dolorosamente poderíeis impedir.

3. Finalmente, para poderdes levar a termo com satisfação tão altos deveres, será necessário de vossa parte:

a) uma assídua consagração ao vosso trabalho, sem fugirdes ao sacrifício, inclusive deixando de lado os proveitos e os progressos pessoais;

b) uma conduta exemplar, porque os vossos pequenos, que não tiram os olhos de cima de vós, aprenderão mais das vossas obras do que das vossas belas palavras; sobretudo da vossa limpeza de vida, do vosso desinteresse, da vossa paciência e da vossa sincera piedade;

c) um contínuo contato com o Senhor, especialmente por meio da oração e da frequência dos Sacramentos, porque, em coisa tão sublime e tão delicada como é a educação primária das crianças, a parte principal fica reservada à graça do alto.





[Fonte: Livro Pio XII e os problemas do mundo moderno, tradução e adaptação do Padre José Martins, 1959.]

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

A Influência da Mídia sobre as Crianças e a Passividade dos Pais

As crianças estão se desenvolvendo cada vez mais rápido. Os estímulos hoje em dia são muitos, tanto visuais quanto sonoros, as crianças estão entrando cada vez mais cedo na escola e aprendendo muito rápido. Mas ao mesmo tempo em que as crianças aprendem e se desenvolvem rapidamente, há uma grande influência negativa vindo de muitos desses estímulos. A mídia é uma delas. Seja televisão, rádio e até revistas apresentam coisas a qual as crianças pequenas não deveriam ter acesso. Hoje em dia é quase impossível que as crianças não vejam certas coisas que são vinculadas nos meios de comunicação, pois estão o tempo todo ao seu redor, os pais assistem TV, ouvem rádio, e também na escola as crianças tem acesso a isso, muitas vezes de forma mais educativa, mas mesmo assim não estão livres de estarem em contato com materiais impróprios e principalmente ideológicos haja vista o Kit Gay que quase entrou nas escolas e ainda estão lutando por isso no congresso.

O fato é que os pais estão muito passivos diante da grande influência que a mídia tem sobre as crianças. Deixam as crianças assistirem de tudo e ouvirem de tudo, tanto que agora se vê crianças cantando o “sucesso” ai se eu te pego e os pais ainda acham bonito. Crianças de até 7 anos ainda não tem caráter formado pra distinguir o certo e o errado. É dever dos pais ensiná-los o que é certo e não deixar que a mídia e o Estado os ensine. Os pais não podem ficar passivos diante do lixo cultural que querem impor aos seus filhos. Esses mesmos pais que deixam as crianças assistirem de tudo, ouvirem de tudo e ainda acham bonito que saiam por aí cantando músicas esdrúxulas, são os mesmos que reclamam porque o filho virou marginal ou a filha virou “piriguete”. É preciso ter firmeza e autoridade com as crianças hoje, ou elas serão “educadas” por outros meios. E aqui um exemplo pra ilustrar o que acontece com as crianças que fazem o que querem e os pais ainda acham bonito.... Pais reajam enquanto há tempo, senão será tarde demais!

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

A Arte da Verdadeira Educação

Por Robert K. Carlson

Ao descrever as excelências de um aprazível e bem-sucedido College americano, este autor relembra os preceitos clássicos para toda a boa educação, e sobretudo este: um bom ambiente é fundamental para o que há de mais essencial na educação – o aprendizado das virtudes.

Recentemente, fui convidado pelo Magdalen College, uma Faculdade católica de Artes Liberais da cidade de Warner, New Hampshire, para falar sobre o tema: Qual é a verdadeira crise moral? Ao voar de volta e pensar sobre a minha estadia ali, reparei que tinha recebido dos estudantes pelo menos tanto quanto procurara dar-lhes – e talvez mais. Magdalen fez-me lembrar de uma verdade perene central que, tal como o pássaro de São Beda, costuma fugir da mente se não se reflete sobre ela: a de que os estudantes não conseguem crescer em solo infértil.

Ao chegar em casa, um amigo perguntou-me se tudo tinha corrido bem. Respondi-lhe que sim: Em Magdalen, o solo era fértil, a semente tinha vida, os agricultores eram fortes, entusiastas e competentes, os estudantes eram dóceis e a colheita foi copiosa. Inspirado nesse solo rico, escrevi uma carta ao Presidente do College, Jeffrey J. Karls, em que resumia a minha experiência:


Os seus alunos, criados em boas famílias católicas, foram-lhe confiados pelos pais para se tornarem membros da ampla família de Magdalen – in loco parentis. Como filhas e filhos adotivos, tomaram contacto com a beleza do campus, com a capela de Nossa Senhora Rainha dos Apóstolos, com a liturgia e música sacras, com os trajes civilizados, com as boas maneiras e com o ensino excelente – todo o fértil solo de Magdalen. E isso produziu bons frutos. Demonstram-no a caridade e o zelo de sua faculdade em dar o que tem – a sabedoria –, e a docilidade e alegria que os seus estudantes põem na busca dessa sabedoria, como pude observar nas duas aulas que vi serem ministradas, bem como nas conversas que tive com os alunos fora da sala de aula. E tudo acompanhado de muita educação, sinal de verdadeira caridade posta em prática.


Creio que foi G.K. Chesterton quem disse certa vez, naquele seu estilo inimitável, que na educação o ambiente – o solo – é quase tudo. Nisso posso perdoar a Chesterton a sua costumeira tendência ao exagero retórico, pois frisava um ponto importante: de fato, o solo, se não é quase tudo, é pelo menos a coisa mais importante. E o Magdalen College sabe disso: coisa que muitos educadores de hoje esquecem ou, pelo menos, negligenciam.

Contrariamente à opinião de Chesterton, muitos educadores modernos parecem pensar que o ambiente em que se dá a educação aos nossos estudantes conta muito pouco ou nada. A tradição educativa do Ocidente está certamente do lado de Chesterton, ou melhor, ele é que está do lado dela. Começando por Platão, o primeiro grande comentarista da educação, a tradição nos ensina que os estudantes não conseguem desenvolver-se em solo estéril; que o ambiente docampus onde são educados é de primordial importância para que a educação liberal produza o seu fruto.

E qual é o fruto próprio da educação liberal? A nossa tradição clássica e cristã nos diz que a educação liberal é a arte de tornar o homem melhor enquanto homem, para que assim possa viver uma vida melhor. É também a arte que possibilita ao homem adquirir as virtudes ou hábitos morais e intelectuais. Essas virtudes são os princípios absolutos e universais que regem a educação enquanto arte: são o significado da sua pretensão de tornar o homem melhor. Pois a educação liberal – do latim líber, livre – prepara a pessoa em função do seu próprio bem, e não apenas para algum trabalho. É a educação de um homem livre, e não de um escravo. Por isso, ao contrário de um escravo, o homem que recebeu essa educação vive por si próprio, no sentido exposto por Marcus Berquist: “compreende interiormente a finalidade da sua vida e a assume na sua própria pessoa”.

A educação liberal forma o intelecto e as virtudes intelectuais. Robert Maynard Hutchins, explicando o enfoque tradicional da educação liberal, aponta: “Ao falar de virtudes intelectuais, refiro-me aos bons hábitos intelectuais. Das cinco virtudes intelectuais que os antigos distinguiam, três eram virtudes especulativas: o conhecimento intuitivo, que é o hábito da indução; o conhecimento científico, que é o hábito da demonstração; e a sabedoria filosófica, que é o conhecimento – ao mesmo tempo científico e intuitivo – das coisas de natureza mais alta: os primeiros princípios e as causas. As outras duas virtudes correspondem ao intelecto prático: a arte, que é a capacidade de agir conforme o verdadeiro curso do raciocínio, e a prudência, que é a reta razão quanto ao que se deve fazer”.

No entanto, a educação liberal não menospreza a força da vontade – fonte primária da moralidade –, nem, muito especialmente, o cultivo prático das três virtudes morais cardeais – a temperança, a justiça e a fortaleza – que resumem todos os outros valores morais.

Embora ao longo da história da educação liberal tenha havido muita discussão quanto ao ensino dessas virtudes morais – como devem ser ensinadas e se, a rigor,podem mesmo ser ensinadas –, há um consenso geral de que o intelecto tem de estar envolvido no cultivo da vontade. Como diz o antigo ditado, o intelecto propõe e a vontade dispõe. Mark Van Doren comenta a propósito da vontade e do intelecto: “Sem capacidade de abstração, ficaríamos ofuscados ao ver as coisas, tal como o homem de Platão quando sai da caverna. O que não vemos é a natureza daquilo que vemos. «Virtude é conhecimento», disse Sócrates, ao explicar que o ignorante não pode ser corajoso, pois a coragem consiste em saber o que se deve e o que não se deve temer. A educação moral nada mais é do que reflexão. O método mais seguro de educação moral consiste em ensinar a pensar. Como dizia Pascal, «trabalhemos, pois, para bem pensar: eis o princípio da moral».

Consta da declaração de princípios educacionais do Magdalen College que o seu Programa de Estudos se baseia na visão clássica e cristã da educação liberal, em coerência com o dito socrático: uma vida irrefletida não é uma vida digna. Por isso, anuncia que a sua missão é capacitar os estudantes a viverem bem a vida, o que é justamente a finalidade última da educação liberal.

O Programa foi montado para realizar essa tarefa ajudando os estudantes na aquisição das virtudes intelectuais: como questionar e como participar no discurso racional; como pensar e como aprender; como defender opiniões e como chegar à verdade; como analisar e como sintetizar. Isso, por sua vez, irá prepará-los para as virtudes morais, pois, como acabamos de ver, pensar bem é o princípio da moral.

A tradição classificou a Educação como uma arte cooperativa, juntamente com a Medicina e a Agricultura. Essas artes são cooperativas no sentido de que o professor, o médico e o agricultor cooperam com a Natureza para a consecução de seus fins respectivos: o aprendizado, a saúde e a obtenção dos frutos da terra. A Natureza por si própria é capaz de chegar a essas metas, mas alcança-as melhor através desses artistas, que atuam como instrumentos secundários ao exercerem as suas capacidades.

Por causa da semelhança entre ensinar e plantar, o próprio Cristo fez uma analogia entre essas atividades na Parábola do Semeador, a fim de instruir os Seus discípulos na arte que em breve passariam a praticar pregando o Evangelho. A Parábola do Semeador ensina a importante verdade de que, assim como o solo deve ser rico para que a semente lançada pelo semeador crie raízes e produza fruto abundante, da mesma forma o estudante deve ser dócil ao ouvir as palavras de quem ensina para que elas criem raízes e produzam o seu fruto nele: o fruto do entendimento. Cristo diz: e a semente que cai em terra boa são aqueles que ouvem a palavra e a põem em prática, e dão fruto: uns trinta, uns sessenta e outros cem por um.

A tradição ensina que a docilidade é uma virtude moral, um cume entre dois vícios opostos: a subserviência e a indocilidade. O estudante dócil é aquele que tem o nível adequado de respeito pela autoridade do professor, que é quem semeia a palavra. Se o estudante exagerar na sua dependência dessa autoridade corre o risco de simplesmente ouvir a verdade tal e como o mestre a enuncia, e depois confiá-la à memória sem fazer nenhum esforço por compreendê-la por si mesmo. Isto não é ensino: é doutrinação. Por outro lado, se o estudante não respeita a autoridade do professor, não irá sequer escutá-lo e, em conseqüência, permanecerá na ignorância ou no erro. Estes dois vícios conduzem a efeitos negativos bem conhecidos, ao passo que a docilidade – o nível adequado de respeito pela autoridade do professor – conduz à verdadeira educação.

O Magdalen compreende a docilidade e a valoriza nos seus estudantes. Parte da sua pedagogia consiste em que os alunos leiam os Grandes Livros em pequenas sessões com os professores, nas quais estes procuram fazê-los descobrir a verdade em conversas de estilo socrático. A respeito disso, o programa comenta: Uma vez que viver melhor pressupõe uma busca pessoal dos princípios que integram a nossa existência, os estudantes devem aprender a descobrir e avaliar esses princípios. E o conseguirão na medida em que se fizerem dóceis como as crianças.

Mas como tornar o aluno dócil às palavras do professor? Deve-se deixar isso inteiramente ao acaso, ou os educadores – tal como os agricultores – devem cultivar cuidadosamente o solo educacional em que se encontram imersos os estudantes, com a intenção de os expor à verdade, ao bem e à beleza, para que assim possam mais facilmente tornar-se receptivos à palavra do professor?

Platão, na República, responde: Não permitamos que os nossos guardados cresçam no meio de imagens de deformação moral, como ocorre em certos pastos ruins, e ali mordisquem e comam, dia após dia e pouco a pouco, ervas e flores prejudiciais e venenosas, até acumularem silenciosamente uma massa de podridão que fermenta nas suas almas.

Platão afirma além disso que os educadores, tal como os artistas, devem produzir por meio da razão o rico solo em que os seus educandos podem absorver a graça e a beleza verdadeiras e o bem em todas as coisas. Então a beleza moldará a sua alma desde os primeiros anos, em conformidade e harmonia com a beleza da razão.

E o que pressagia esse rico solo para o estudante cuja alma foi moldada em conformidade e harmonia com a beleza da razão, e que por isso mesmo está apto para uma verdadeira educação? Quem for educado num ambiente onde se cultive corretamente a verdade, o bem e a beleza, argumenta Platão, adquirirá bom gosto nas artes, tornar-se-á nobre e bom, e saudará a sua amiga , com quem convive desde há muito tempo graças à educação.

Em poucas palavras: pela influência desse rico solo, o estudante tornar-se-á dócil, ou seja, capaz de ser ensinado. Conseqüentemente, não somente respeitará a sua “amiga razão”, mas também o representante dela – o professor –, que deposita a semente na sua alma para que aí lance raízes e produza frutos de sabedoria. Vê-se portanto que Platão e a tradição confirmam aquilo que Chesterton diz e que o Magdalen sabe: que na educação o solo é realmente o mais importante. Descrevendo o seu ambiente educativo, o College articula essa verdade perene: “Na sala de aula, espera-se que haja respeito para com todas as pessoas e uma vigorosa busca da verdade. Nas atividades em comum, todos são convidados a participar e os estudantes podem crescer nas virtudes enquanto se divertem e convivem com os colegas. No refeitório praticam-se as boas maneiras e o serviço ao próximo. As residências conservam-se limpas e em ordem, e dá-se incentivo aos bons hábitos de estudo. Por toda parte, vão-se formando verdadeiras e duradouras amizades e consegue-se obter um sólido rendimento acadêmico”.

Nos tempos que correm, e em que esses conceitos são freqüentemente esquecidos, é animador saber que há um pequeno College de Artes Liberais que responde ao apelo do Coração da Igreja (Ex Corde Ecclesiae) e o põe em prática. Magdalen é um diamante aos pés do monte Kearsarge, em Warner, cidade de New Hampshire.


Fonte: The New Oxford Review

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Ótima Palestra sobre Educação Católica de Profesora Ivone Fedeli

Educação Sexual nas Escolas



Frei Estevão Nunes


1) Se você analisar bem a anatomia do corpo humano,, vai notar uma diferença fundamental entre o
corpo do homem e o corpo da mulher. Ossos, músculos, localização das gorduras,produção e distribuição dos hormônios, tudo no corpo da mulher é endereçado para a geração da prole, no corpo do homem para o trabalho de sustentação da mesma.
Maravilha da criação, os órgãos sexuais mais do que tudo são evidentemente endereçados para a geração da prole e a continuação da espécie. Anatomicamente feitos um para o outro, encaixam-se perfeitamente, e o funcionamento deles é um verdadeiro milagre. O uso do sexo provoca um enorme prazer, o maior conhecido pelo ser humano, e o orgasmo é comparado a um êxtase.
Ora, o sexo usado de modo natural, sem interferências artificiais, pode levar à concepção de um novo ser. Esta é a sua finalidade de acordo com a natureza. A gravidez é conseqüência natural do ato sexual. São nove meses de um desenvolvimento linear miraculoso, em direção ao parto. Interromper a gravidez pelo aborto, em qualquer fase deste desenvolvimento, é um crime hediondo e absurdo, é interromper a vida de um ser humano totalmente inocente e indefeso. O direito à vida é absoluto.
Passados os nove meses, a criança que nasce precisa de uma família. O animal que nasce precisa da mãe só para se alimentar, não precisa do pai; desmamado, nem precisa mais da mãe, porque não precisa aprender nada, o instinto se encarrega de levá-lo a agir como todos os seus semelhantes; o animal não progride. A criança é diferente; ela é totalmente dependente em tudo, e para crescer tranqüila, pacífica, equilibrada, precisa de um ninho tranqüilo, pacífico e equilibrado. A figura materna e a paterna são complementares e essenciais. Por isso a criança exige família, precisa da família, por anos e anos. E quem nasce ou cresce fora do contexto familiar, vai levar as conseqüências para o resto da vida. A família é instituição para durar.
Mas a família verdadeira é constituída pelos laços do amor que unem um homem e uma mulher. E que pela natureza das coisas deve ser duradouro, pois família é instituição para durar. Amar porém não é simplesmente "gostar de...", pois o "gostar de..." é muito egoísta: você gosta de algo que dá prazer e satisfação a você mesmo, não ao outro. Amor é doação de si para a felicidade do outro, o que implica renúncia e sacrifícios. A família de verdade é fundamentada no juramento de amor exclusivo e definitivo, que nós chamamos casamento.
2) Dado que o sexo praticado de modo natural, sem interferências artificiais, leva à concepção e
tem como conseqüência a geração de um novo ser, a gravidez, deduz-se que esta é a sua finalidade natural, existe para isto, é isto que lhe dá sentido e o torna nobre, humano de verdade. O prazer é apenas um contrapeso, diante da enorme responsabilidade de por um novo ser no mundo e levá-lo até a idade adulta. Sem o contrapeso, ninguém abraçaria o peso, e o mundo terminaria em uma só geração.
Existe o instinto sem dúvida, mas o ato tem que ser humano e não motivado pelo instinto. Por isso, fazer do prazer a finalidade do ato e praticar sexo só por prazer, é estragá-lo, degradá-lo ao nível dos animais que agem só por instinto , desvirtuá-lo de sua finalidade e destruir a sua nobreza. Pior ainda que os animais, para os quais o instinto sexual tem como finalidade só a conservação da espécie, e não exige o contexto de amor de família, de que eles não são capazes. Os animais só praticam o sexo na época do cio. Os seres humanos não têm época do cio, porque são capazes de amar, e o amor é sempre e não só de vez em quando.
Praticar o sexo fora desse contexto de amor juramentado e definitivo, que se chama casamento, só pode ser egoísmo, puro egoísmo, pois é fazer do corpo do parceiro ou parceira um objeto de prazer e nada mais, é usar o outro como coisa. Isso é pisar em cima da dignidade da pessoa humana. Pessoa não é coisa.

3) A própria natureza se vinga, e aí temos a epidemia de AIDS, como conseqüência do uso do sexo
fora dessas normas. Sem dúvida é um castigo. Veja a carta de São Paulo aos Romanos, 1,26-27.
Há apenas um método 100% eficaz contra a AIDS: para os solteiros é a castidade, ou seja não praticar o sexo; para os casados é a fidelidade. Nestas condições, ninguém precisa ter medo de pegar a maldita doença.
Tem gente dando risada do que estou dizendo, porque essa sociedade podre que está aí - sobretudo a televisão através das novelas - fez a cabeça de quase todo mundo. Avacalhou (coitada da vaca, não tem nada a ver com a história!) o sexo, e aí estão as conseqüências: a epidemia de AIDS e a epidemia de adolescentes grávidas, nem física nem psicologicamente preparadas para serem mães. Coitadas dessas crianças (tanto os filhos quanto as mães) no futuro. Mais sem vergonha ainda são os rapazes, que não vão carregar as conseqüências porque não assumem.
4) Mas preservativo não resolve. Todos têm a sua margem de risco, pois nenhum é 100% eficaz.
Todos podem falhar. Se você fosse viajar de avião, e o piloto lhe dissesse antes: "olha, o avião está nestas condições, e temos 95% de possibilidade de chegar e 5% de possibilidade de cair durante a viagem", você embarcaria? Assim é a camisinha, e qualquer outro preservativo. Você poderia estar dentro daqueles 5%, não acha? Além do mais, "você chupa bala com o papel?"
Conclusão. Assim respondo de uma vez a todas as perguntas. O pensamento da Igreja, que eu
abraço com total convicção, é este: O aborto é um crime absurdo, a prostituição é um absurdo desprezo pela dignidade do ser humano, a gravidez de uma adolescente é uma absurda conseqüência de atos fora de tempo e de contexto, a distribuição de camisinhas é uma forma absurda de querer evitar o mal sem tocar na raiz, essa libertinagem no uso do sexo é uma conseqüência absurda das influências absurdas da televisão e da falta de uma verdadeira educação sexual nas famílias e nas escolas. Educação sexual que não ensina a nobreza do sexo e se limita apenas a informações sobre o funcionamento dos órgão sexuais é outro absurdo. No fundo, falta amor e sobra egoísmo. O castigo está aí!

http://www.dominicanos.org.br/textos/artigos/estevao/educacao.htm

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Paulo Freire e Catolicismo

Revista: “PERGUNTE E RESPONDEREMOS”


D. Estevão Bettencourt, OSB

Nº 254 – Ano 1981 – Pág. 65.

(via Prof. Felipe Aquino)

O MÉTODO PAULO FREIRE EM DEBATE


Em síntese: O método Paulo Freire de alfabetização é muito mais do que uma técnica de aprendizagem. Como o próprio autor o reconhece, é uma forma de despertar a consciência da população simples para a dualidade de opressores e oprimidos que caracteriza a sociedade atual, segundo P. Freire e outros pensadores. Mediante palavras geradoras o estudioso visa a suscitar na gente oprimida a conclusão de que é necessária a luta de classes. Assim a pedagogia se torna pregão político revolucionário. Ademais P. Freire tenciona extinguir a diferença entre mestre e discípulos, pois “ninguém educa ninguém nem ensina coisa alguma a alguém”. A escola passa, consequentemente, a se chamar “círculo de cultura”. Neste a educação é libertadora, problematizadora, e não domesticadora, bancária ou alienante.

Ora tal sistema deve ser reconhecido como politizante em sentido esquerdista. P. Freire, exilado do Brasil, tem colaborado com Governos de tendência marxista. Além do quê, é de notar que, embora professe não querer ensinar coisa alguma, o mestre, segundo P. Freire, tem o objetivo predefinido de levar os educandos a posições revolucionárias. Os textos citados no decorrer do artigo ilustrarão e desenvolverão quanto é dito nesta síntese.


Comentário: Paulo Freire, pensador pernambucano, ensinou na Universidade Federal de Pernambuco, onde dirigiu o Centro de Extensão Cultural. Mais tarde desempenhou a função de Consultor para Assuntos de Educação no Ministério de Educação e Cultura. Em 1962 fundou um movimento de educação popular no Nordeste. A revolução de 1964 levou-o a deixar o Brasil; foi então contratado pela UNESCO para servir em Santiago do Chile, onde trabalhou a formulação do Plano de Educação em Massa durante o Governo Eduardo Frey e sob Salvador Allende. Tornou-se membro da cúpula do Conselho Mundial das Igrejas e professor visitante da Universidade de Harvard (U.S.A.). Foi convocado pelo novo Governo de Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé como assessor em assuntos de educação. Atualmente tenciona voltar ao Brasil, onde exerce grande influência não somente através de suas obras, mas também através de comentários dessas obras.

Tem-se discutido a respeito do método de alfabetização concebido por Paulo Freire; especialmente a sua filosofia tem sido controvertida. Eis por que proporemos abaixo as grandes linhas do sistema Paulo Freire, às quais seguirão algumas ponderações.

                                
1. O sistema Paulo Freire

Examinaremos: 1) a tese fundamental de Paulo Freire; 2) as técnicas libertadoras dos “Círculos de cultura”; 3) o papel atribuído por P. Freire à Igreja.

1.1. A tese fundamental de Paulo Freire

O método de alfabetização de Paulo Freire é muito mais do que uma técnica para ensinar a ler; é, sim, a transmissão de uma filosofia de vida, que passamos a expor.

Parte da afirmação de que a sociedade contemporânea se apresenta em permanente conflito de forças contrárias umas às outras; a superação de cada atrito gera novo atrito. Essas forças antagônicas são designadas pelos termos “opressores” e “oprimidos”, sendo, em última instância, opressores os que possuem os meios de produção, e oprimidos os que não os possuem, mas oferecem o trabalho.
       A situação de conflito em que vive a sociedade, não será superada por reformas ou por melhoramento das condições de vida dos trabalhadores; as reformas, em última análise, atenuam as tensões e diminuem as disposições de luta por uma transformação radical.

Ora, segundo Paulo Freire, a almejada transformação radical da sociedade exige um processo de educação das massas que as habilite a tomar consciência ou a conscientizar-se¹ da sua condição de oprimidos e as leve a empreender a sua libertação. Tal educação chama-se libertadora. Na educação libertadora, portanto, visa a despertar as consciências para que se movam em prol de uma sociedade nova, isenta de opressões.

A educação libertadora é, essencialmente, problematizadora: não deve trazer certezas nem suscitar segurança, mas, sim, levantar problemas e aguçar as tensões, a fim de provocar conflitos transformadores. A educação que não seja problematizadora e conflitiva, vem a ser puro assistencialismo, invasão cultural e alienação. – Sem educação libertadora torna-se inútil qualquer reforma das estruturas sociais, ainda que violenta e armada, pois a antiga ideologia permanece latente e pode ressurgir, restaurando as estruturas opressoras na sociedade.

É na base destas premissas que Paulo Freire apregoa a alfabetização; esta é, como dito, mais do que um método de aprendizagem da leitura, pois está inseparavelmente associada ao intuito de fazer do alfabetizando um agente revolucionário.

É isto que leva a dizer que Paulo Freire não tem apenas preocupações pedagógicas, mas é também movido por intenções políticas. Aliás, um repórter do Jornal da República de Recife, aos 31/08/79, interrogou Paulo Freire, de passagem pelo Brasil, a respeito de eventual filiação a partido político; ao que respondeu o mestre: “Faço política através da pedagogia”.

Escreve também Paulo Freire:

“A conscientização, associada ou não ao processo de alfabetização,... não pode ser blá-blá-blá alienante, mas um esforço crítico de desvelamento da realidade, que envolve necessariamente um engajamento político” (Ação Cultural para a Liberdade, p. 109).

“A educação libertadora não pode ser a que busca libertar os educandos de quadros negros para oferecer-lhes projetores. Pelo contrário, é a que se propõe, como prática social, a contribuir para a libertação das classes dominadas. Por isto mesmo é uma educação política, tão política quanto a que, servindo às classes dominantes, se proclama contudo neutra” (ib. p. 110).

Vejamos agora de mais perto em que consistem

1.2. As técnicas dos “círculos de cultura”


O conceito de educação libertadora derivado das premissas de Paulo Freire

- não significa transmissão de hábitos bons ou virtudes pelas quais o homem faça reto uso das suas faculdades, ordenadas segundo a razão, como propunha Aristóteles (+ 322 a.C.) em sua Ética a Nicômaco...

- nem significa ensinar a raciocinar e pensar, para que a criança, o adolescente e o adulto cresçam em ciência e saber.

Estas diversas acepções de educação, segundo Paulo Freire constituem o que ele chama “educação domesticadora, bancária ou alienante”. Supõem um mestre que tenha conhecimentos verídicos e hábitos bons e comunique o seu cabedal ao educando como sendo valores e padrões válidos para este. Tal tipo de educação, diria o pensador pernambucano, é fruto das estruturas sociais de dominação e opressão e só serve para consolidar e perpetuar esta realidade vigente. A educação domesticadora mantém a diferença de classes, supondo que haja quem tenha saber e quem não o tenha, quem deva falar para ensinar e quem deva ouvir para aprender.

Paulo Freire explica em termos veementes o adjetivo “bancária” aposto ao tipo de educação que ele não aceita:

“Em lugar de comunicar-se, o educador faz “comunicados” e depósitos que os educandos, meras incidências, recebem pacientemente, memorizam e repetem. Eis aí a concepção bancária da educação, em que a única margem de ação que se oferece aos educandos é a de receberem os depósitos, guardá-los e arquivá-los. Margem para serem colecionadores ou fichadores das coisas que arquivam. No fundo, porém, os grandes arquivados são os homens, nesta... equivocada concepção “bancária” da educação. Arquivados, porém, porque, fora da busca, fora da praxis os homens não podem ser.

Na visão “bancária” da educação, o “saber” é uma doação dos que se julgam sábios aos que julgam nada saber. Doação que se funda numa das manifestações instrumentais da ideologia da opressão – a absolutização da ignorância, segundo a qual esta se encontra sempre no outro” (Pedagogia do Oprimido, p. 67).

A educação “bancária” ou “domesticadora” desumaniza, segundo P. Freire.

Que vem a ser, pois, a educação “libertadora” ou “problematizadora”, que P. Freire propõe em lugar da clássica maneira de educar?

1.2.1. Educador-educando

A educação, segundo o pensador pernambucano, apaga a distinção entre educador e educando. Em vez de falar de “educador do educando” e de “educando do educador”, falará de “educador-educando” e “educando-educador”.

“O educador já não é o que apenas educa, mas o que, enquanto educa, é educado, em diálogo com o educando, que, ao ser educado, também educa. Ambos assim se tornam sujeitos do processo em que crescem juntos e em que os “argumentos de autoridade” já não valem...

Já agora ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém se educa a si mesmo; os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo. Mediatizados pelos objetos cognoscíveis, que, na prática “bancária”, são possuídos pelo educador, que os descreve ou os deposita nos educandos passivos” (Pedagogia do Oprimido, p. 78s).


1.2.2. Problemas e crítica

Em vez de transmitir certezas ou verdades seguras, a educação segundo P. Freire

- levanta problemas, apresenta desafios, mostrando o homem inserido no mundo e necessitado de acabamento;

- suscita atitudes críticas ou rebeldes em relação à realidade vigente:

“A educação problematizadora ... é futuridade revolucionária. Daí que seja profética e, como tal, esperançosa. Daí que corresponda à condição dos homens como serem históricos e à sua historicidade... Daí que se identifique com o movimento permanente em que se acham inscritos os homens, como seres que se sabem inconclusos” (Pedagogia do Oprimido, p. 84).

1.2.3. Círculo de cultura
Por isto também Paulo Freire já não quer usar a palavra “escola”, mas, sim, a expressão “círculo de cultura”.

“A liberdade é um dos princípios essenciais para a estruturação do “circulo de cultura”, unidade de ensino que substitui a “escola” autoritária por estrutura e tradição. Busca-se no círculo de cultura, peça fundamental no movimento de educação popular, reunir um coordenador a algumas dezenas de homens do povo no trabalho comum pela conquista da linguagem. O coordenador, quase sempre um jovem, sabe que não exerce as funções de professor e que o diálogo é condição essencial de sua tarefa – a de coordenar, jamais intuir ou impor” (Educação como prática da liberdade, p. 5).

1.2.4. Diálogo. Conteúdo programático
         A educação, segundo P. Freire, recorre permanentemente ao diálogo. É no diálogo que o educador-educando e o educando-educador vão descobrindo os problemas e tentando renovar a sociedade.

O diálogo compõe-se de palavras. Ora a palavra, para Paulo Freire, tem significado muito especial. Sim; há nela duas dimensões: a ação e reflexão, solidárias entre si; não há palavra verdadeira que não seja praxis; daí dizer-se que a palavra verdadeira seja transformar o mundo (cf. Pedagogia do Oprimido, p. 91).

Estas afirmações de Paulo Freire não podem deixar de recordar as de Karl Marx: “Até aqui os filósofos não fizeram mais do que interpretar o mundo; trata-se agora de transformá-lo” (Tese sobre Feuerbach).

É através do diálogo que se elabora o conhecimento programático da educação; este não é concebido e formulado previamente pelo mestre, mas é descoberto mediante o intercâmbio realizado no grupo. Escreve P. Freire :

“Para o educador-edicando, dialógico, problematizador, o conteúdo programático da educação não é uma doação ou uma imposição – um conjunto de informes a ser depositado nos educandos, mas a devolução organizada, sistematizada, e acrescentada ao povo, daqueles elementos que este lhe entregou de forma inestruturada” (Pedagogia do Oprimido, p. 98).
E. P. Freire, a propósito, cita Mao-Tsé-Tung:

“Você sabe que, há muito, venho proclamando: Temos que ensinar às massas com precisão o que delas recebemos com confusão” (ib. p. 98).

1.2.5. Palavras geradoras
          Para elaborar com o povo o programa de educação, o educador revolucionário procurará com o povo palavras geradoras, isto é, palavras mais usuais, relevantes e evocadoras na linguagem popular; são palavras carregadas de experiência vivida e decisivas, como, por exemplo, favela, tijolo, trabalho, roupa, feijão, jarro, latifúndio ... Estes vocábulos são úteis não apenas à análise das letras e dos fonemas, mas também à reflexão sobre a realidade cotidiana em que está imerso o povo, pois geram aspirações, decepções e expectativas.

Estas palavras geradoras são escritas em cartazes ou apresentadas em dispositivos; os membros dos círculos de culturas, reunidos eventualmente em uma casa de família, discutem tais vocábulos para decodificar a situação existencial que eles codificam, e para descobrir as causas e as conseqüências sócio-políticas de tal situação.

As palavras geradoras tornam-se, nos cursos mais evoluídos, temas geradores de debates para todos os participantes do círculo de cultura. Mais importante do que a decomposição analítica das sílabas e letras que constituem a palavra geradora, é a discussão sobre a situação desafiadora que tal palavra exprime.

1.2.6. Revolução

      O fruto dessa educação dialógica e crítica há de ser, segundo P. Freire, uma revolução cultural, revolução que se oporá à invasão cultural. Com efeito, os opressores tendem a impor a sua cultura aos oprimidos, praticando assim uma invasão cultural, que, aliás, os próprios oprimidos tendem inconscientemente a aceitar; sim, os oprimidos têm, não raro, medo da liberdade; por isto tendem a conservar os padrões culturais e os mitos que os opressores lhes incutem.

Em conclusão, verifica-se que o método educacional de Paulo Freire está essencialmente vinculado a uma ideologia, isto é, a uma visão filosófica que tende a transformar a sociedade, induzindo nesta uma autêntica subversão. É o próprio Paulo Freire quem o afirma numa entrevista publicada em “Veja” (20/06/79); o repórter aventou a hipótese de que a educação de Freire fosse um método “assexuado”, neutro, descomprometido com qualquer ideologia. Ao que P. Freire respondeu :

“Quem disse isso, ou não entendeu nada ou está de má-fé. Em meu método, parte-se do conhecimento do meio em que se vai desenvolver a experiência de educação. Toma-se em consideração o universo vocabular do grupo em questão, as palavras que são utilizadas todos os dias e que exprimem a vida cotidianas daquelas populações. Desse universo vocabular são escolhidas as palavras geradoras. Estas palavras encontram em si os temas de discussão que deverão corresponder aos interesses dos alfabetizados e deverão constituir o primeiro passo, por meio da discussão em grupo, em direção a uma tomada de consciência individual e coletiva dos problemas discutidos. Esse aspecto puramente mecânico poderá ser utilizado por qualquer pessoa: tirar uma palavra geradora de um universo vocabular também pode ser feito por alguém que pretenda mistificar a realidade e a consciência dessa realidade. De minha parte, o conhecimento de uma realidade, que vai sendo construído pouco a pouco a partir da experiência dos alfabetizandos, está intimamente ligado à consciência crescente da capacidade de mudar essa realidade. Conhecer para transformar, é este o objetivo. O que ficou sendo conhecido como Método de Alfabetização Paulo Freire, não é algo que se possa reduzir a um aprendizado meramente lingüístico. Trata-se de aprender a ler a realidade – conhecê-la – para em seguida poder reescrever essa realidade – transformá-la”.


1.3. Paulo Freire e a Igreja

          Paulo Freire não é hostil ao Cristianismo em seus escritos. Ao contrário, apregoa a participação da Igreja Católica no processo educacional problematizador. Para tanto, distingue três tipos de Igreja :

1) A Igreja tradicionalista, que, segundo Freire, está associada às camadas dominantes. O pensador pernambucano desfigura a Igreja no sentido clássico, fazendo eco, de certo modo, aos dizeres de Karl Marx sobre “a religião ópio do povo’ Cf. Pedagogia do Oprimido, pp. 116s.

2) A Igreja modernizante, adepta do desenvolvimento econômico. Esta, embora pareça diferir da anterior, entretêm a dependência dos oprimidos e não se empenha pela real libertação das massas, isto é, não colabora com os movimentos de revolução social; defende as reformas estruturais e não a transformação radical das estruturas; fala em “humanização do capitalismo”, e não em suta total supressão. Cf. Pedagogia do Oprimido, pp. 118-124.

3) A Igreja profética. Esta “recusa os paliativos assistencialistas, os reformismos amaciadores, e se compromete com as classes sociais dominadas para a transformação radical da sociedade” (Pedagogia do Oprimido, p. 124). Rejeita toda forma estática de pensar; sabe que, para ser, tem de estar sendo; sabe igualmente que não há um “eu sou”, um “eu sei”, um “eu me liberto”, um “eu me salvo”, como não há um “eu te dou conhecimento, um “eu te liberto”, um “eu te salvo”, mas pelo contrário um “nós somos”, um “nós sabemos”, um “nós nos libertamos”, um “nós nos salvamos”. Este tipo de Igreja propugna a chamada “teologia da libertação, profética, utópica, esperançosa”, optando pela transformação revolucionária da sociedade e não pela conciliação dos inconciliáveis.

Para Paulo Freire, a única atitude autêntica do cristão é a profética, pois quem não se compromete com os oprimidos se compromete com os opressores.

Perguntamo-nos agora:

2. Que dizer ?
          Não podemos salientar a intenção fundamentalmente reta de Paulo Freire, que se preocupa com as massas e o proletariado, visando à promoção dessa parte das populações do Terceiro Mundo.

Também não desconhecemos o valor do respeito à liberdade que Paulo Freire propugna, rechaçando qualquer tipo de sufocação da personalidade e dos direitos das pessoas mais humildes.

A defesa de valores humanos torna certas páginas de Paulo Freire simpáticas a quem as aborda pela primeira vez. Todavia uma leitura mais atenta dos seus escritos evidencia, nos mesmos, traços incompatíveis com as autênticas concepções cristãs.

2.1. Os princípios de Freire
          Merecem atenção especial os seguintes princípios de Paulo Freire:

1) O pensador pernambucano professa a subordinação do conhecimento e da palavra à transformação do mundo ou à praxis:

“A mera captação dos objetos como das coisas é um puro dar-se conta deles e não ainda conhecê-los” (Extensão ou Comunicação, p. 28).

“O homem não pode ser compreendido fora de suas relações com o mundo ... O homem é um ser da praxis ... Não há possibilidade de dicotimizar o homem do mundo, pois que não existe um sem o outro” (ib.)
Tais frases lembram os princípios do marxismo, que limitam as aspirações do homem à transformação deste mundo e ignoram o valor do conhecimento como apreensão da verdade, qualquer que seja a índole desta. Não se pode dizer que a eficácia transformadora do conhecimento seja o critério da autenticidade do conhecimento. Nem se pode fazer da repercussão política e social de determinada proposição o critério do valor de tal proposição.

A realidade ou a extensão do ser é mais ampla do que o âmbito do sócio-econômico-político. Por isto há enorme valor em conhecer também as verdades que não se prendam diretamente ao político; há verdades de ordem especulativa, que não alienam necessariamente o homem, mas o podem habilitar a ser mais sábio transformador deste mundo. A filosofia cristã sempre professou o primado do Logos (do conhecimento como tal, teórico ou prático). Sobre a praxis; esta decorre daquele, e não vice-versa.

2) A crítica ou a problematização não pode ser o primeiro passo da inteligência. Esta foi feita para a verdade como tal, ou seja, para reconhecer e afirmar a verdade; foi feita, antes do mais, para o Sim. O Não ou a contestação só tem sentido se proferido em função de um Sim anterior. É preciso, pois, antes do mais, que a inteligência se disponha a apreender a verdade como tal numa atitude otimista e confiante; só depois disto poderá ela com fundamento dizer Não à Não-verdade ou à Não-autenticidade. A problematização como princípio de “educação” pode deformar os hábitos do educando; é não raro a expressão de neurose mórbida, que leva a atitudes doentias.

2.2. Educação domesticadora x Educação libertadora

          A antítese acima, estabelecida por P. Freire, é artificial por três motivos:

2.2.1. Memorização x conhecer

Conforme P. Freire, a educação domesticadora se identifica com memorização, ao passo que a libertadora propicia conhecimento (cf. Pedagogia do Oprimido, p. 79). Ora tal antítese é insustentável, porque o ser humano, dotado de inteligência como é, é sempre propenso a raciocinar e mesmo a criticar as noções que receba dos mestres.

Note-se também que será sempre necessário decorar tabuada, nomes de capitais, rios, datas da história ... (infeliz o cidadão que não saiba de cor tais elementos!), P. Freire o reconhece, mas julga que, além da memorização, deve haver na escola uma doutrinação filosófica de ordem politizante e marxista, de modo a atirar classe social contra classe social. E nesta doutrinação que consiste a novidade da educação libertadora ou problematizadora. E é precisamente esta doutrinação que faz do método P. Freire algo mais do que um sistema educacional, tornando-o instrumento de política partidária ou de infiltração esquerdizante nas massas populares. Quem aceitou o método Paulo Freire, aceitará consequentemente a luta de classes na sociedade e a revolução armada de inspiração marxista.

Note-se também que em nossos dias os métodos de aprendizagem recorrem às técnicas audiovisuais, à análise e à indução. O aluno é chamado a participar de seminários e fazer pesquisas (na medida em que ele o possa e queira). Os responsáveis pela educação em alguns lugares costumam também ouvir os alunos (ou os pais dos alunos) a respeito de grandes decisões a ser tomadas na escola.

2.2.2. Educação libertadora também é domesticadora

 
          A educação libertadora proposta por Paulo Freire não deixará de ser também domesticadora1 . Com efeito, diz o próprio mestre que não há ciência nem técnica assexuada ou neutra, mas que tanto a ciência quanto a técnica estão condicionadas histórico-socialmente (cf. Extensão ou Comunicação?, p. 34). Isto significa que na educação libertadora o educador não pode deixar de dirigir e manipular; ele tem um objetivo pré-definido e se empenha por atingi-lo, pois quer que a turma chegue a atitudes críticas e acirradas. A escolha das palavras geradoras, embora se faça por sugestão do grupo, não pode deixar de estar sob a responsabilidade última do coordenador; o mesmo se diga em relação ao debate sobre tais palavras, que, em última instância, é conduzido pelo mestre para que chegue à conclusão de que tal grupo é explorado e oprimido a ponto de ter que se insurgir violentamente contra os seus opressores. Em outras palavras: o sentido da conscientização já está de antemão definido.

2.2.3. O nivelamento de educador e educando

 
          Não há dúvida de que todo mestre há de ser aberto à aprendizagem de novas e novas verdades, como também à reformulação de seus conceitos; o progresso no saber é-lhe muitas vezes ocasionado pelo convívio com os próprios alunos.

           Isto, porém, não quer dizer que o professor se deva julgar tão educando quanto o próprio discípulo. Um tal esvaziamento do conceito de mestre vem a ser nocivo aos alunos, pois estes precisam de sentir firmeza e segurança no seu orientador. A profissão da verdade deve ser efetuada com desassombro e sem subterfúgio, mas também com humildade. Pelo fato de ter descoberto a verdade sobre tal ou tal assunto, o mestre é devedor em relação aos seus alunos, e deve pagar-lhes a dívida, comunicando e demonstrando a verdade; proponha os pontos certos e indubitáveis como certos, e os pontos ainda discutíveis como discutíveis. Esta oferta da verdade, longe de ser desrespeito ao próximo, é precioso serviço prestado ao mesmo.

Por isto também não se pode aceitar a frase: “Ninguém educa ninguém” (Pedagogia do Oprimido, p. 79). Na verdade, os homens são dependentes uns dos outros para eduzir (educere > educar) as virtualidades latentes no seu íntimo. Em geral, são os pais, no lar, e os mestres, na escola, que educam os mais jovens; afirmar isto não significa “estar a serviço de algum sistema político opressor”. O desempenho da autoridade não é algo de vergonhoso que se deva banir, mas, ao contrário, é um serviço que não se pode extinguir e que faz eco às palavras de Cristo: “O Filho do Homem veio não para ser servido, mas para servir” (Mc 10,45).

2.3. Igreja e libertação

          P. Freire distingue entre Igreja tradicional, Igreja modernizante e Igreja profética; só aceita esta última porque toma o partido revolucionário dos oprimidos.

Na verdade, existe uma só Igreja, embora possa haver diversas atitudes de cristãos. A única Igreja de Cristo interessa-se, sem dúvida, pela pólis e pela arte de a reger (política), pois Cristo lhe confiou a tarefa de apregoar o Reino de Deus neste mundo. Todavia a Igreja não pode, como tal, exercer política partidária ou participar de ação subersiva marxista. O S. Padre João Paulo II o lembrou sobejamente durante a sua estada no Brasil e de novo o disse em carta escrita aos Bispos do Brasil em dezembro de 1980, carta da qual extraímos os seguintes tópicos:

“Através de minha viagem pelo Brasil eu quis reafirmar a convicção primeira, profundamente erraizada em meu espírito, de que a Igreja é portadora de uma missão essencialmente religiosa, e cumprir essa missão é seu dever prioritário ...

É certo que a missão da Igreja não se confina nas atividades de culto e no interior dos templos ...

Mas não é menos certo que a Igreja perderia sua identidade mais profunda – e, com a sua identidade, a sua eficácia verdadeira em todos os campos – se sua legítima atenção às questões sociais a distraísse daquela missão essencialmente religiosa que não é primordialmente a construção de um mundo material perfeito, mas a edificação do Reino que começa aqui para manifestar-se plenamente na Parusia ... A Igreja cometeria uma traição ao homem se, com as melhores intenções, lhe oferecesse bem-estar social, mas lhe sonegasse ou lhe disse escassamente aquilo a que mais aspira (por vezes até sem o perceber), aquilo a que tem direito, que espera da Igreja e que só ela lhe pode dar” (extraído do JORNAL DO BRASIL, 7/01/81, 1º cad. P.4).

De resto, a divisão da sociedade em duas classes – a dos opressores e a dos oprimidos – é artificial e injusta. Há muitos cidadãos que, numa perspectiva marxista, seriam colocados entre os opressores, mas que nada fazem por oprimi; não é o fato de não participar de movimentos subversivos que torna o cidadão opressor.

São estas algumas ponderações que desejamos propor à margem dos escritos de Paulo Freire, tentando evidenciar que, apesar das aparências, servem a uma ideologia não cristã e, por isto, não são cartilha para o educador católico.


_________________

1 Paulo Freire é o primeiro a aplicar as palavras “conscientizar” e “conscientização” ao setor da pedagogia. Com seu conteúdo vernáculo específico, tais vocábulos foram introduzidos no vocabulário de idiomas como o francês e o alemão, tidos como intensos à aceitação de neologismos.

1 Melhor seria não usar tal vocábulo, que é pejorativo e caricatural. Preferimos dizer: “educação diretiva e orientadora”.